terça-feira, fevereiro 21, 2012

A MISÉRIA



Num período em que estamos passando por uma transformação considerada de grande importância cósmica, a passagem para a 5ª dimensão, onde muitos seres humanos estão sendo diariamente testados para compor esta nova realidade, a palavra "MISÉRIA" é entoada a cada momento na cúpula da Classe Média.

O pão na mesa para três dias e a incerteza de não ter no quarto dia, agrava mais ainda os pensamentos negativos atraindo a falta de alimento dentro de casa.

O telefone e a luz da casa cortados, o lazer não mais com assiduidade, o atraso nos pagamentos de mensalidades escolares, a dificuldade de se pagar um plano de saúde, atrasos em aluguéis, são vistos hoje na classe média como uma vida miserável.

Mas estas pessoas, continuam dormindo numa cama macia, tendo seu pão na mesa de três em três dias, usando roupas confortáveis, bebendo água, tendo seu almoço e jantar todos os dias, mesmo que seja de forma escassa.

E os verdadeiros miseráveis?

Os verdadeiros miseráveis são aqueles que vão para as latas de lixo na rua buscar restos de comidas de restaurantes, fazem do seu papelão um cobertor, estão com grandes feridas pelos corpos, as barrigas com vermes, os leites maternos secando, sentindo muito frio em dias de inverno, confortando suas dores nas drogas, fazendo amor debaixo das marquises, parindo seus filhos em qualquer canto.

Não estamos encarnados para ter uma vida 100% feliz. Temos missões a cumprir com a humanidade. Temos karmas para serem queimados. Temos que aprender a valorizar a vida e ajudar ao próximo.

A humanidade precisa saber o que é ser feliz e o que é ser triste. O que é ter muito e o que não é. Embora muitos estejam encarnados sem ter tido a oportunidade de saber o que é ter algo em sua vida, cada provação é dada conforme seu grau de evolução.

Os encarnados que hoje vivem em total miséria, são espíritos que exacerbaram demais com suas riquezas em vidas passadas. E hoje, precisam aprender a ter o mínimo e valorizar o mínimo como uma grande riqueza.

Mas os mais ricos nesta era, precisam ser solidários e ajudá-los. Precisam olhar para os mais necessitados.

A humanidade passa por uma grande transição e isso está sendo cobrado. Cada um de nós está neste momento passando por um período de grande provação espiritual. Precisamos nos adequar a esta nova realidade. A solidariedade é a chave primordial para ficarmos em paz com nós mesmos.

O não ter e dividir é a coisa mais importante que podemos fazer hoje.
E como você pode dividir?

Aconselhando os mais rebeldes, ajudando os que tem menos, limpando seu armário e doando roupas para os mais necessitados, dando um sanduíche a uma criança quando ela pede moedas, fazendo doações às instituições de caridades, incluindo a humanidade nas suas orações, desejando o bem aos seus inimigos, educando seus filhos para que eles desde pequenos aprendam o que são solidariedade e humildade.

Isto não significa que vai dar certo, mas sim que estamos fazendo a nossa parte junto ao Cosmo. O livre arbítrio precisa ser respeitado. Não se deve forçar um ser humano a se transformar. Portanto, jamais insista se quer ajudar alguém e este alguém não quer ser ajudado.

A classe média é a que passa hoje por uma fase maior de transformações. Ela está exatamente neste momento no centro da 4º dimensão com muitas tarefas entregues por seus mentores para serem realizadas. E uma das mais importantes é a FÉ. Muitos estão sendo reprovados.

Acreditar que está em período de miséria, enquanto milhões de seres humanos comem biscoito de barro na África, é falta de consciência cósmica. E com isso, não estão preparados para serem projetados para a 5ª dimensão. Ficarão estagnados num plano inferior.

É necessário que paremos para meditar sobre estas transformações e que nos conscientizemos que o momento é de compartilhar.

Quando a classe média entender o verdadeiro sentido da palavra "MISÉRIA" e deixar de repetí-la dentro de sua casa, sua vida começará a ser mais próspera e terá a chance de ajudar a quem realmente está na miséria.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

ERA UMA VEZ - UMA SAGA 2ªparte



Inicialmente, os cavaleiros nem sequer haviam acreditado.
Todos os irmãos do Templo... presos? Porquê? A mulher não
fora capaz de o explicar. Não fazia a mínima ideia. Sabia
apenas que os membros da Ordem haviam sido presos e que os
cavaleiros estavam a ser interrogados pela Inquisição.
Pasmados, os cavaleiros tinham-na visto a arrastar-se para
junto das viajantes que rodeavam o carro, ainda a gritar-lhes
avisos e a implorar-lhes que se salvassem enquanto os
pacientes bois puxavam a carroça e as pessoas a seguiam tão
tranquila e lentamente como num cortejo. Profundamente
perturbados, os homens tinham tido em conta aqueles conselhos
ameaçadores e seguido lentamente o seu caminho, mas já não
para Paris. Haviam-se dirigido para oeste, para o ducado de
Guyenne. Fora ali, no acampamento montado com outro pequeno
grupo de Templários encontrados na estrada, que tinham
começado a ouvir relatos dos acontecimentos.
Ainda parecia inconcebível que o Papa Clemente pudesse
acreditar nas histórias propagadas contra eles, mas o Papa
estava aparentemente a apoiar a campanha de Filipe, o monarca
francês, e nada fizera para salvar a Ordem que existia apenas
para o servir, a ele e à cristandade. Essas histórias haviam
irrompido como uma onda de maré, esmagando todos os
argumentos e não dando qualquer possibilidade de defesa, isto
porque negar as acusações servia apenas para lançar todo o
peso da Inquisição sobre quem o fizesse, o que só podia
significar uma coisa, a destruição.
Ao princípio tudo aquilo parecera ridículo. Os cavaleiros
eram acusados de serem heréticos... mas como poderiam eles
ser heréticos depois de terem perdido tantas vidas na defesa
dos estados cristãos? Toda a sua razão de existência era a
defesa dos estados dos Cruzados no ultramar, na Palestina,
uma causa por que tinham lutado e morrido ao longo de
séculos, com muitos deles a preferir a morte à vida quando a
escolha lhes era proposta. Escolhiam a morte mesmo quando
eram apanhados pelos Sarracenos e estes lhes davam a
possibilidade de continuarem vivos em troca da renúncia a
Cristo. Como era possível haver alguém capaz de acreditar que
fossem heréticos?
Correra o rumor de que até as pessoas vulgares tinham tido
dificuldades para acreditar numa coisa daquelas. Ao longo de
dois séculos - desde que São Bernardo lhe dera o seu apoio
durante a cruzada - as pessoas haviam sido ensinadas de que a
Ordem era inultrapassável na sua santidade. Como era possível
que tivessem caído tão baixo? Quando enviara ordens para a
captura e prisão dos cavaleiros, o monarca vira-se forçado a
explicar por que razão empreendia uma tal ação. Era óbvio
que pressentia que, se não o fizesse, as ordens poderiam
acabar por não ser cumpridas. No Fim de contas, as acusações
eram tão chocantes que se tornavam quase inacreditáveis. O
monarca entregara uma declaração escrita a cada um dos
oficiais encarregues da captura, declaração em que acusara os
cavaleiros e a sua Ordem de crimes desumanos e diabólicos,
ordenando que fossem presos, bem como os respectivos servos,
para serem interrogados pela Inquisição. Para além disso,
todos os seus bens deveriam ser apreendidos. Nas últimas
horas daquela sexta-feira já todos os cavaleiros haviam sido
acorrentados e já os monges Dominicanos da Inquisição tinham
iniciado os interrogatórios.
Poderiam ser culpados de tais crimes? De certeza que tal não
era possível! Como podia a mais santa de todas as Ordens
tornar-se tão amoral, tão maléfica? As pessoas não conseguiam
acreditar. Todavia, a descrença transformara-se em horror
quando as confissões começaram a transpirar para o exterior.
Depois das torturas inimagináveis que a Inquisição lhes
infligira, depois de centenas deles terem sofrido as agonias
de semanas inteiras de dores ininterruptas e de muitos terem
morrido, as confissões tinham começado a ressoar nas orelhas
da populaça como fezes a escorrerem de uma fossa para irem
poluir um poço de águas limpas. A seguir, tal como é costume
com esse tipo de sujidade, os boatos tinham contaminado todos
aqueles em que haviam tocado... e a culpa fora confirmada.
Contudo, depois de verem os camaradas a perderem pés e mãos
na angústia contínua das câmaras de tortura, quem duvidaria
que acabariam por confessar fosse o que fosse para porem fim
à dor e ao horror?
A tortura durava dias e semanas intermináveis e as dores eram
incessantes nas celas de tortura criadas nos seus próprios
edifícios porque não existiam prisões suficientes para
albergarem um tão grande número de prisioneiros.
Confessaram tudo o que os Dominicanos lhes puseram na frente.
Admitiram terem renunciado a Cristo. Admitiram a adoração do
diabo.
Admitiram que tinham cuspido na cruz, a homossexualidade e
tudo o mais que pudesse pôr Fim aos tormentos. Todavia, isso
não lhes chegara... e os monges Dominicanos haviam passado
para toda uma série de novas perguntas. Tinham tantas
acusações para confirmar que as torturas prosseguiram durante
semanas. Foram muitos os indivíduos que confessaram crimes
inacreditáveis, mas isso continuou a não ser suficiente. Só
permitia que o monarca punisse indivíduos... e ele queria a
morte da própria Ordem. Por isso, as torturas continuaram.
Gradualmente, devagar, sob os contínuos e pacientes
interrogatórios dos monges Dominicanos, as admissões
modificaram-se e as declarações começaram a implicar a
própria Ordem. Os Cavaleiros passavam por rituais satânicos
de iniciação, tinham-lhes dito para adorarem ídolos e haviam
sido forçados a renunciarem a Cristo. Agora, finalmente,
Filipe possuía as suas provas. Toda a Ordem era culpada e
tinha de ser dissolvida.
Na praça, os olhos do homem eram ardentes e aguçados agora
que os recordava os amigos, os homens que treinara e ao lado
de quem combatera, homens fortes e corajosos cujo único crime
- e ele sabia-o - fora terem permanecido leais à causa.
Tinham sido tantos os mortos, tantos os destruídos por uma
dor muito pior do que tudo o que os seus inimigos sarracenos
jamais lhes tinham infligido...
Todos se tinham alistado na Ordem prestando os três votos, de
pobreza, castidade e obediência, tal como em qualquer outra
ordem de monges. Sim, porque eles eram monges. Eram os
monges-guerreiros, dedicados à proteção dos peregrinos na
Terra Santa. Contudo, desde a perda de Acre e da queda do
reino do Ultramar na Palestina - havia mais de 20 anos - as
pessoas tinham-se esquecido disso. Tinham esquecido a
dedicação desinteressada e os sacrifícios, as enormes perdas
e os perigos que os cavaleiros haviam sofrido nas suas lutas
contra as hordas Sarracenas. Já só se recordavam das
histórias sobre a culpabilidade da maior de todas as Ordens,
histórias postas a circular por um monarca avarento que
desejava apoderar-se das suas riquezas. Era por isso que
aquela multidão se encontrava ali, para testemunhar a
humilhação final, a última indignidade. Estava ali para ver o
último Grande Mestre da Ordem a admitir as culpas e a
confessar os crimes, tanto dele como da sua Ordem.
Uma lágrima, que era como a primeira gota a assinalar a
aproximação de uma tempestade, correu lentamente pela face do
homem, que a limpou com um gesto rápido e zangado. Não era o
momento oportuno para lágrimas. Não estava ali para lamentar
a perda da Ordem. Isso podia ficar para mais tarde. Estava
ali para assistir tanto por ele como pelos amigos, para
testemunhar a confissão do Grão-Mestre e descobrir se todos
haviam sido traídos.
Ao terem conhecimento de que aquele espetáculo público iria
ter lugar, ele e os amigos haviam discutido o assunto
prolongadamente durante um encontro realizado três dias
antes. Os sete, homens de diferentes países, os poucos que
restavam, os poucos que não tinham ido para mosteiros ou
entrado para uma das outras ordens, tinham-se sentido
confusos e desesperados por causa daquele inferno na Terra.
Teriam realmente existido tais crimes, tais obscenidades? Se
o Grão-Mestre confessasse, então isso significava que tudo o
que haviam defendido estava errado? A Ordem poderia ser
corrupta sem que o soubessem. Parecia-lhes impossível.
Contudo, seria igualmente incrível se nada daquilo fosse
verdade, pois implicaria uma conivência entre o monarca e o
Papa para a destruição da Ordem. Seria possível que a Ordem
pudesse ser tão atraiçoada precisamente pelos seus dois
principais patronos? A sua única esperança estava na
possibilidade de uma retratação, numa admissão de erro, e
também na hipótese da Ordem vir a ser considerada inocente e
reconduzida à sua posição de honrosos serviços ao Papa.
Os sete haviam discutido as opções e tinham concordado com o
alemão de Metz, que propusera o envio de um deles a
testemunhar o acontecimento para depois os informar. Não
podiam confiar nos relatos de outros. Precisavam de ter
alguém presente, uma pessoa que pudesse ouvir as declarações
para lhes contar o que fora dito, para que pudessem decidir
por si mesmos se as acusações eram ou não verdadeiras. O
homem que se encontrava encostado à parede da catedral fora o
que tirara a palhinha mais curta.
Todavia, ainda continuava mistificado, incapaz de compreender
o que se passava, e não tinha a certeza de conseguir dedicar
ao assunto toda a concentração necessária. Sentia-se
perturbado, porque era inacreditável, era impossível que a
Ordem em que servira fosse tão horrivelmente perversa. Como
era possível que o dedicado grupo de cavaleiros que
conhecera, e de que ainda se recordava, pudesse ser tão
deformado, tão envilecido? Tinham entrado na Ordem para
poderem prestar um melhor serviço a Deus, mais como soldados
do que como monges. Quando um Templário decidia abandonar a
Ordem, só o fazia para passar para uma outra ainda mais
estrita, para os Beneditinos, para os Franciscanos, ou para
qualquer outro grupo de monges a viver na mesma pobreza
forçada, escondidos do mundo. Como era possível que a Ordem
houvesse sido tão grandemente atraiçoada?
Limpou outra lágrima e caminhou por entre a multidão,
apático, com o rosto fechado a revelar o medo e as
preocupações. Espreitou para as bancas do mercado durante
alguns minutos sem na realidade prestar atenção às
mercadorias, até descobrir que o seu pequeno passeio sem
destino o levara de volta à plataforma, onde se virou para a
enfrentar de uma maneira mais frontal, como que a desafiá-la
a permitir a destruição da Ordem.
Erguia-se na sua frente como um patíbulo, uma grande
construção de madeira com troncos novos que brilhavam um
pouco quando o Sol os iluminava. De um dos lados existia uma
série de degraus que conduziam ao estrado, lá em cima.
Enquanto o olhava, o conjunto como que estremeceu. Conseguia
sentir o mal quase como uma força, mas não era o mal da sua
Ordem, mas sim o daquele feio palco onde ele e os seus amigos
iriam ser denunciados. Agora, sem saber muito bem como, tinha
a sensação de que era inútil alimentar esperanças. Não
haveria reconciliação, nenhum reatamento das glórias
passadas. Essa sensação invadiu-o, e era como se
anteriormente ainda não estivesse verdadeiramente consciente
das profundezas em que a Ordem caíra, como se nos últimos e
difíceis anos tivesse mantido um pequeno clarão de esperança
de que a Ordem pudesse ser salva. Mas agora, ali, naquele
lugar, era como se essa minúscula chama tivesse morrido e
sentisse o desespero como se fosse a dor de uma ferida de
espada no seu ventre.
A plataforma atraía a sua atenção horrorizada. Erguia-se na
sua frente como um símbolo do falhanço absoluto do Templo,
obstinada e impassível, como se troçasse da natureza
transcendente da honra da Ordem quando comparada com o seu
próprio poder para a destruir. Aquilo não era um lugar de
confissão, era um de execução, era o local onde a sua Ordem
ia morrer. Tudo aquilo que ele e os milhares de outros
cavaleiros tinham defendido ia finalmente morrer ali, naquele
dia. Quando a compreensão desse facto o invadiu foi como se o
atingisse fisicamente, fazendo-o estremecer como se tivesse
aparado um golpe. Não havia proteção, não havia defesa
contra a implacável maré de acusações que os iria destruir a
todos. Era inevitável e o resultado ia ser a destruição
absoluta do Templo.
Porém, mesmo enquanto o compreendia, mesmo enquanto se
apercebia da chegada do fim, um fim que era uma certeza,
também sentia a esperança a debater-se novamente dentro do
seu peito, tentando libertar-se dos grilhões do desespero que
o envolviam com tanta rigidez.
Estava tão emerso na sua própria infelicidade que ao
princípio nem sequer deu pela alteração nos ruídos da
multidão. Ouviram-se gritos entre a populaça quando os
condenados apareceram, gritos que foram imediatamente
seguidos por troças, mas tudo isso esmoreceu e morreu como se
as pessoas ali em volta reconhecessem as terríveis
implicações da ocasião. A calma foi crescendo até ao momento
em que a praça ficou quase silenciosa, com a multidão de pé e
à espera dos homens que avançavam para desempenharem os
papéis principais naquele triste drama. Ainda não se
encontravam completamente à vista das testemunhas, ainda não
tinham chegado à plataforma mas o homem percebia que se
aproximavam por causa do modo como as pessoas junto à
plataforma se começaram a agitar, empurrando-se e
acotovelando-se para conseguirem ver melhor. Entretanto havia
mais gente a chegar à praça, pessoas que tentavam abrir
caminho até à frente, atraídas pelo súbito silêncio e pelo
aumento da agitação.

domingo, fevereiro 12, 2012

ERA UMA VEZ - UMA SAGA 1ªparte



Naquela manhã havia uma multidão amontoada em frente da
grande catedral de Notre Dame, sobre a multidão pairava uma
tensa expectativa, uma espécie de pressentimento contido,
como se as pessoas soubessem que o que iam ver não era apenas
mais uma humilhação pública de um criminoso.
Tratava-se de um acontecimento que até podia ser considerado
como sendo mais importante do que uma execução, e parecia que
o povo de sabia que a ocasião iria ser recordada
durante séculos uma vez que as pessoas haviam aparecido aos
milhares para assistirem. Agora, toda aquela gente aguardava
com uma expectativa semelhante à de uma multidão instalada à
beira da fossa dos ursos e à espera que lhes atiçassem os
cães.
Nunca a multidão seria tão densa se se tratasse de homens
vulgares, de gatunos ou de ladrões. Os parisienses, tal como
a maior parte dos habitantes das cidades do Norte, gostavam
de se amontoar para assistir aos castigos impostos aos
criminosos enquanto gozavam a atmosfera de Carnaval, bem como
o vivo e buliçoso comércio do mercado. Contudo, aquele era um
dia diferente e parecia que a cidade inteira se encontrava
ali para assistir ao fim de uma Ordem que todos haviam
reverenciado durante séculos.
De vez em quando, o Sol brilhava por entre as nuvens e
lançava breves clarões de calor sobre as pessoas reunidas na
praça. No entanto, durante a maior parte do tempo, a multidão
aguardava sob um céu cinzento de chuva e carregado de pesadas
nuvens. Aqueles clarões intermitentes limitavam-se a aumentar
ainda mais a sensação de depressão e de melancolia, como se
as súbitas explosões de luz solar troçassem dos homens e das
mulheres que se agitavam lentamente de um lado para o outro,
pondo em destaque o ambiente lúgubre que os rodeava. Contudo,
por outro lado, quando o Sol espreitava por trás da sua
cobertura e dava brilho à área, também punha em relevo as
cores das roupas e dos estandartes, afastando momentaneamente
a frieza daquele dia de Março e dava a toda a área uma aura
de alegria estival, como se os homens e as mulheres
estivessem ali para uma feira e não para a destruição de
milhares de vidas. Era como se o Sol pretendesse depreciar a
gravidade dos motivos que tinham dado origem ao ajuntamento e
tentasse aligeirar os espíritos de toda aquela gente com o
seu calor dador de vida.
Todavia, pouco depois, o Sol voltava novamente a ocultar-se
por trás das nuvens, tal como um homem a espreitar em busca
de um qualquer perigo antes de voltar a esconder-se no seu
abrigo, como se também ele se encontrasse demasiado nervoso e
receoso quanto às possíveis consequências daquele dia. Para o
homem alto e trigueiro que permanecia encostado contra a
parede da catedral, tanto aquelas nuvens escuras como os
súbitos clarões de luz serviam apenas para aumentar ainda
mais a sua sensação de irrealidade e de abatimento.
Era um homem seco de carnes e elegante, com um ar arrogante,
mas que no entanto parecia curiosamente contido no meio das
pessoas vulgares que se encontravam à sua volta, como se não
estivesse habituado à companhia daqueles homens e mulheres.
Tinha um corpo volumoso oculto sob o manto e poderia parecesse
com um daqueles cavaleiros itinerantes tão vulgares na
altura mas que, tendo perdido o seu senhor, deixara de
possuir rendimentos ou uma razão para a sua existência. Não
envergava um traje de batalha nem o uniforme de um grande
senhor, com uma orgulhosa insígnia bem à vista, mas sim uma
túnica gasta e suja por baixo de um manto de lã cinzenta.
Para além disso, parecia ter passado muitos dias e noites
sobre a sela ou a dormir nos descampados. Porém, a sua mão
nunca permanecia muito longe do punho da espada e estava
sempre pronta para o agarrar, como se esperasse um ataque de
um momento para o outro e se encontrasse constantemente
alerta, embora os olhos raramente pousassem nas pessoas que o
rodeavam. Era quase como se soubesse que nenhum dos homens
que se encontravam por perto constituía uma ameaça e se
sentisse suficientemente a salvo dos humanos. Conservava os
olhos sempre fixos na plataforma improvisada erguida ao lado
da parede da catedral, como se essa construção em madeira
simbolizasse, por si só, todas as ameaças.
Tudo começara há muito, muito tempo, mas no entanto ainda se
conseguia recordar do dia em que o inimaginável acontecera:
fora na sexta-feira, 13 de Outubro do ano de 1307. Era uma
data que sabia que nunca iria esquecer, uma data inventada
pelo próprio diabo! Oh, tivera muita sorte, encontra-se fora
do Templo com três companheiros, de visita ao navio que se
encontrava na costa, pelo que escapara às prisões que tinham
apanhado tantos dos membros da sua Ordem. Nem sequer ouvira
falar nesses acontecimentos até já estar de regresso a Paris,
na altura em que, nos arredores de uma pequena aldeola, fora
avisado para não prosseguir viagem porque, se regressasse à
capital, também seria preso e interrogado pela Inquisição.
Fora uma mulher quem o avisara a respeito dos crimes que
estavam a ser cometidos contra a sua Ordem. O grupo, que o
incluíra a ele, aos amigos e aos respectivos escudeiros,
detivera-se numa das bermas da estrada para comer quando a
mulher os avistara. Era pequena, tinha um rosto cor de cinza
e parecera-lhe uma pessoa bem-nascida por causa das roupagens
ricas - embora sujas e manchadas pela viagem - e encontrava se
incluída no grupo de seis outras que rodeavam o carro de
bois que passara por eles. Tinham passado junto ao tranquilo
grupo de cavaleiros e a mulher exibira um aspecto
desesperançado e de profunda infelicidade enquanto seguia ao
lado do carro com a cabeça baixa, a tropeçar de dor e de
tristeza. Todavia, levantara a cabeça, tivera um relance do
grupo através das lágrimas e sob ressaltara-se ao ver os
cavaleiros barbudos sentados à beira da estrada, com os elmos
tirados. Inicialmente parecera invadida por uma espécie de
esperança louca e ficara de boca aberta, com os olhos a
saltitarem rapidamente de um para outro daqueles homens que
comiam tranquilamente, para logo de seguida correr para eles
com o optimismo a dar lugar ao desgosto, chorando
ruidosamente e ignorando os gritos das companheiras.
Começara a chamá-los ainda antes de se aproximar mais do que
alguns passos, e fizera-o com uma voz quebrada e uma fala
balbuciante que provocara o espanto dos cavaleiros e os
levara a interromper a refeição e a perguntarem a si mesmos
se seria uma louca. Tinham dado ouvidos às suas tiradas
chorosas... e as palavras da mulher haviam-nos atingido com a
forma de um golpe de maça. O filho também era Templário,
dissera-lhes, e que pretendia ajudá-los e protegê-los.
Precisavam de evitar a capital e fugir para um lugar seguro,
para a Alemanha ou Inglaterra, para qualquer lado exceto
Paris. Não estariam a salvo em Paris, e talvez até em nenhum
lugar de França. Os cavaleiros tinham-se mantido sentados,
surpreendidos, e a mulher falara com o frágil corpo abalado
pelos soluços, por causa de um filho que sabia que estava a
ser torturado e que provavelmente não voltaria a ver, exceto
talvez na fogueira.
Segue.>>>

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

GUERREIRO DE DEUS



Deus me ama tão profundamente, que não me livra dos problemas que eu preciso enfrentar,
para que eu amadureça e me sinta mais forte.
Deus me ama tão profundamente, que não me poupa das tristezas e decepções,
que são necessárias para o meu crescimento.
Ele me dá uma vida, onde eu posso ter, na medida certa,
tudo que preciso para viver com honestidade.
Ele me fez entender que o meu tempo aqui é muito curto, para acumular coisas
desnecessárias à minha espiritualidade.
Ele tem me dado, principalmente, o que eu posso levar comigo, quando eu partir, e entregar a Ele, no momento do nosso encontro. Ele sabe que se eu tivesse uma vida de riquezas, provavelmente,
eu daria tanto valor as futilidades que até me esqueceria Dele. E se eu esquecesse Dele, logo chegaria um dia em que eu me sentiria extremamente infeliz.
Repleta de valores materiais, mas vazia por dentro.
Deus me ama tão profundamente, que me fez entender: Que o tempo que eu perco nas minhas lutas diárias, me aproxima mais Dele.
Que a dor física e a dor da alma me aproximam mais Dele.
Que nas minhas tristezas e decepções, Ele está sempre comigo.
O Senhor, em sua suprema sabedoria, sabe o que eu preciso para ser feliz.
Preciso de Deus, e do seu profundo Amor por mim.
num mundo onde as pessoas velem o que tem, não vou deixar que esses valores me afetem também.
Onde estiver o vosso tesouro, ai estará também o vosso coração num domingo de tempo comum.
Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar valor ao verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos, e arranjarão para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer à elas o que elas querem ouvir.
Fé não é achar que Deus fará tudo o que você quiser, fé é crer que Ele fará o que é melhor para você.
Que Deus possa ser sempre o seu refúgio nos momentos de aflição... E não se pergunte o porquê da prova... Mas sim o para quê! Perguntas sábias geram respostas corretas! 
O bom lutador, não desiste da batalha, mas ganha fôlego, e retoma o ânimo para a guerra... Então não desista, nunca pare de lutar, e nem dos seus sonhos; Porque ao cansado Ele dá força para lutar, ao abatido Ele dá ânimo para vencer, ao triste Ele dá alegria de viver.
"Eu sou o teu Deus, em mim encontraras Descanso e refúgio, te amo tanto, por isso dei a minha vida para te livrar dos seus pecados, venha, estou aqui para te abraçar e te renovar, vinde a mim meu filho amado".
"Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, Invocai-o enquanto está perto".

                                  Um simples "toque" mudará o rumo de sua vida!


Em 52 dias os muros de Jerusalém foram reconstruídos, as portas restauradas e todo povo se alegrou em seu Deus. Essa vitória começou com Neemias, um homem que se importou.
Abraão se importou, e Deus enviou anjos para conduzirem Ló para fora de Sodoma, salvando este e sua família.
Moisés se importou, obedeceu a Deus, e os hebreus foram libertos do Egito. 
Davi se importou, e conduziu Israel de volta ao Senhor. 
Ester se importou, e arriscou sua vida para falar ao rei e Salvar a nação do genocídio. 
Paulo se importou, e anunciou o evangelho em todo o Império Romano. 
Jesus se importou e morreu na cruz em nosso lugar, assegurando salvação para todos aqueles que Nele crêem e obedecem-lhe.
Quem duvida disso não conhece a natureza humana.

sábado, janeiro 28, 2012

O HOMEM QUE VENDIA SONHOS


Ele foi uma criança triste que brincou com a sorte, hoje é um homem feito que na sua meninice, ele disse que  um dia chegava lá, veio revelar agora à história da morte como exemplar, ele não se formou, nem estudou direito, faz da vida o seu maior conhecimento, a sua própria escola nobre em planos e sonhos, vendeu em casas e por muitas ruas os seus livros que ensinam, esse jovem senhor não sabe o que é vaidade, mas a vida o graduou, sem ele saber, formando-o em magistrado, por onde passou lecionou seu exemplo em aulas de luta, de família e respeito, palestrando foi deixando na lousa da sala que falava uma marca em relevo do giz.

Num certo sábado, depois do almoço entre sua família, ouvia deste professor esta lição: Das coisas que preciso saber sobre as maneiras mais tristes na hora da morte, do arrependimento pela condução da vida, das pessoas que na hora da extrema unção, muitas relatavam ter arrependimento de não ter doado mais dos seus bens, de ter vingado do desafeto ou daquele irmão, tantas pessoas vivendo e morrendo de coisas complicadas, quando o verdadeiro amor exige coisas simples e básicas na vida longe do perfeito, no calor da lealdade e nos filhos, a falta de tempo para amar mais é uma barreira e na sua ânsia não conseguem superar a primeira barreira, numa busca intensa frenética e sem fronteiras, encontram os perdidos na duvida da paixão, que vêem-se tristonhos, porque nada é o bastante se há divisa no estado que esperam ao que se encontram para ser feliz.

Primeiro arrependimento então é de não terem amado mais, quantas pessoas que encontraram e compartilharam um momento com alguém que realmente amaram e não souberam viver a riqueza desse relacionamento, mulheres que encontram alguém que realmente vale a pena na vida, que conheceram um bom homem e não suportaram conviver com um único defeito, fez-se da fúria do gênio o confronto entre brigas pequenas e intrigas serenas, quando o pequeno desejo era deixar claro, quem domina a relação, quanta bobagem na intenção de render alguém a fazer tudo como você sempre quis.

Depois desse almoço o homem que vendia sonhos nos presenteou com uma história que digeri com atenção, na narrativa ele contava que num certo dia um empresário participando de uma reunião com acionistas, levantou-se e esmurrando a mesa proferiu; "Vocês não tem o direito de vetar meus sonhos, de proibir que a esperança que tenho, em salvar esta empresa da falência que nos rodeia o mercado com a forte concorrência que enfrentamos nos negócios e a estagnação que nossos funcionários se encontram em seus vícios".

Assim no dia seguinte, o diretor estampou um cartaz na entrada dos funcionários, que dizia: "A pessoa que inviabilizava seu crescimento profissional e o entrave desta empresa faleceu nesta madrugada, o velório será no salão nobre de convenção às 15:00hs, muitos foram os que murmuraram pelos cantos, curiosos uns diziam, será que foi o diretor financeiro? Ele era uma mala, outros diziam seria o gerente de vendas? Ele era muito mau-humorado, enfim muitas eram as especulações que duraram por todo o dia, finalmente quando uma grande porta se abriu, via se um amplo salão enfeitado com flores e no centro um caixão, os funcionários formaram uma fila, e um à um entravam na salão para a despedida final, quando o primeiro à entrar no recinto olhou no visor do caixão, seu olhos abriram-se como num espanto, enfim todos que saiam do salão, passavam pelo corredor com as cabeças baixa e pensativos, o silencio dominou toda fala e ninguém comentava o assunto, mudos olhavam se entre si sem saber o que de fato estava acontecendo, o diretor mandou colocar no visor do caixão um espelho de maneira que quando a pessoa olhasse no visor, via o seu próprio rosto, isso fez com que o comportamento dos funcionários mudassem instantaneamente e a partir desse dia o comprometimento com o trabalho de cada função apresentavam rendimentos nunca antes experimentado por aquela empresa que prosperou multiplicando seus contratos e serviços.

Ele nunca gostou de usar terno, quando no seu casamento usou apenas fina camisa, casou-se com uma ainda menina que atendia pelo nome de Ziza, sem saber o vendedor de sonhos estava assim ensinando mais uma lição na minha vida, que a falta de sucesso ou estagnação poderia estar na minha face e eu não poderia responsabilizar outras pessoas pelo meu infortúnio ou por falta do meu comprometimento com a minha estória, como uma nova alternativa ou uma outra saída, vou lembrar desse senhor quando o momento precisar de mais atenção, mas hoje quero agradecer a oportunidade de ter conhecido esse professor que se diz ser um vendedor e que a razão vem mostrar-me seus crivos na retidão, agora ele sabe que nas paginas dentro dos seus livros, ele vendia junto com uma história divina os ensinos que continham sempre uma oportuna lição.


domingo, janeiro 22, 2012

O QUE SABE UM TEMPLÁRIO


As teorias multiplicam-se entre o povo, a crença e a religião, o Priorato em queda com seu traidor sentado na mesa de um jogo, observado por agente em campana do Bispo moribundo em confissão.

Os Anjos dos Céus vem anunciar sem as trombetas nem nuvens, uma era que faz vento forte com trovão, que mudança grande chegou e não veio a geladeira nem precisa de fogão, mostram um ajuste no terreno global em alinhamento com o perdigueiro maior no seu quintal, trás mudanças no Colorado na terra dos patos, o faro denuncia o cheiro da caça, e o martelo da obra quem vai acabar com o serviço da escuridão.

Nos trópicos o índio de pé vermelho apaga no atlas, como cera de giz, a linha do equador no tabuleiro, em Capricórnio o magnetismo da latitude muda a orbita do pólo, faz o Rio virar mar, a semente do mal arrancada da terra pela sua raiz, do sul vem territórios em expansão, nascendo ilhas do chão, na cidade dos arranha-céus, em Santiago o rebento da imperatriz, o clarão sem luz, apenas um som do humano comprometido com o mal, o que é belo na Rússia o homem mau não poderá ver, nem o radar de um couraçado captar, leva duas Torres defendendo um Rei, revela como a força da Rainha natureza entrando em ação, nada mais vai sobrar do Japão, colunas e pilares destruídos, dois Cavalos caídos no chão.

A águia americana perdeu seu ninho, voa sem destino perambulando em vão, não tem árvore para pousar, acuada não pode mais caçar, acredite você ou não, no caminhos dos ciprestes secos montanhas de pedras rolarão sobre a terra dos Muçulmanos e na região da Capadócia, assim como na obra do martelo em construção.

Na mansão que mora o bastardo, se traduz como favela, o luxo queimado como a cera que queima na luz da vela, da cozinha só há fachada, toalha de linho sobre à mesa sem o pão para comer, e o barulho, é o que trás maior temor, a fome fala aos ouvidos como um tagarela, que assim espera ser dispensado da missão, com bandeira amarela um homens que traja vermelho divulga às primeiras noticias e movem os moinhos numa simples rajada, elas se multiplicam com à velocidade do som por toda parte, imagine fumaça exposta ao vento de um tufão.

A ave rapina listada de azul já não voa mais e prosfera o som do mistério, um grito que sera ouvido por todo o mundo, vem pelo céu de janeiro como um arco e sua flecha, é assustador, o homem astronauta usará como transporte suas botas, e a sola dos seus pés marcharão em ordem com o justo que gera, muitos partirão na seara do caminho que fecha, muitos ficarão em processo de realinho na regeneração, enquanto reis caem em desgraça do seu lado, rendidos pelo humilde do Peão e não há nada à fazer antes da Ave Maria, a hora da comunhão.

O santo que anda com cajado de pastor não terá títulos de profeta, ele esconde o alerta que poderia evitar a queda do cego diante do abismo da visão, à confiança conduzirá como engrenagem do câmbio, movendo com maestria da esperança, será julgado sem juízo e desonrado será seu nome e também sua nação.


Será respeitado o livre arbítrio de todos em comum com cada Espírito, no chão próximo da Europa do descobrimento, surgirá um novo continente, abaixo do Trópico do Centauros, como também brota da terra a Grande Ilha da América do Sul, será governada pelo Arco Celestial da Criação.

Quando testada em sua fé à Oceania será reduzida ao tamanho da mostarda em grão, o litoral descoberto por Colombo, já não existe mais no pequeno mapa do tempo futuro que tenho nas mãos e, no norte, a terra adorada sofre com a floresta do Xingu debaixo d'água, já o Planalto Central será próspero sem corte, nasce um novo jardim, uma nova era, à América Latina ganha massa e na proporção da matemática, soma grandes territórios, assim a vida seguirá sua rotina, enfim preservando a evolução.

Não sinta medo no dia do pesadelo com o temporal, nada poderá mudar a vergonha que passou quando praticou o mal, agora é tempo de vigiar-se e de espera na paz, o mau é como o imã, atrai apenas o mais vil dos metais, ingênua, a criança tola com brinquedo novo, diz que o velho não serve mais.

O sócio do primitivo não habita mais entre nós, um passo em direção do longo caminho que resta, as gerações passando do tempo ruim e juntando a parte que quebrou com a outra metade que ficou, só assim poderá obter o inteiro, Eles, os Guardiões dos Céus, cumprindo o que Jesus anunciou, quando falou em voz de verdades, que Eles já estão entre nós e operam, se Deus determinou, que cumpra-se assim, por todas as partes em conflito e em todos os cantos do infinito sua Divina Vontade.

O Rei subjugado.

XEQUE MATE
FYI_ O que sabe um Templário, nada além do que sabem vocês, movimenta-se entre selvas de feras famintas, uma presa frágil na espreita que a fome espera, com o movimento do rock, armam o jogo, como a peça que encaixa no tabuleiro do xadrez.

sábado, janeiro 21, 2012

ACHO QUE PIREI

Eu não quero mais fingir, aprendi que mentir é um subterfúgio que só causa dor.
Eu não espero que um dia a gente possa refletir, que maneira de descobrir porque mãe natureza fez surgir à cor, o que for diferente do seu tom quando explicar a diferença plena em sutilezas das cores em uma só flor. Somos dois filhos á beira mar, tarde linda que não quer passar, à sombras da arvore grande da vida vendo o sol que insiste em se pôr, são às duas ilhas do fundo em alto-mar, um arco-iris no céu do atlântico sul, são as penas amarelas do seu brinco que voam ao vento e vem compôr o meu cocar azul.
Eu não quero mais dormir, fechar os olhos para o que já se anunciou, o destino escolheu ou seja lá como for, este mundo se perdeu, o que você procura encontrar nas pessoas do bem, adoeceu. Vejo o nulo conjugado ao infinito, e sem pudor não me iludo, tudo está ao contrario nesse estado desumano, se eu luto em uma guerra que não me alistei, isso foi o que me impõe o seu rei, uso minha paz como arma por que não quero espada na mão defendendo a lei, pode o destino dar o azar, prefiro ter como proteção o meu escudo que escolher em matar, ainda que seja o mal, o que se fez ser mau é necessitado do que temos de melhor para evoluir, não tenho pretensão de corrigir tudo, mas preciso falar das coisas que me faz pior, às vezes acho que pirei, eu sei, é preciso amar as pessoas ainda mais que amei minha irmã, eu não sei o que pode acontecer pela manhã, mas meu sonho antigo narra a mensagem que recebe hoje pedindo por favor.
O que as palavras não puderem descrever, os sentimentos mostrarão em poucas linhas tudo aquilo que não falei, no silêncio da voz e do segredo entre nós enquanto vou palavreando-me nesse ano regido pelo fogo, que depois de queimar tudo, trás o novo...

terça-feira, janeiro 17, 2012

O COLOSSO DE RODES


Estamos assistindo à agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível.
 
Nossa civilização ocidental hoje mundializada tem sua origem histórica na Grécia do século VI antes de nossa era. Ruíra o mundo do mito e da religião que era o eixo organizador da sociedade. Para pôr ordem àquele momento crítico fez-se, num lapso de pouco mais de 50 anos, uma das maiores criações intelectuais da humanidade. Surgiu a era da razão crítica que se expressou pela filosofia, pela política, pela democracia, pelo teatro, pela poesia e pela estética. Figuras exponenciais foram Sócrates, Platão, Aristóteles e os sofistas que gestaram a arquitetônica do saber, subjacente ao nosso paradigma civilizacional: foi Péricles como governante à frente da democracia; foi Fídias da estética elegante; foram os grandes autores das tragédias como Sófocles, Eurípides e Ésquilo; foram os jogos olímpicos e outras manifestações culturais que não cabe aqui referir.

Esse paradigma se caracteriza pelo predomínio da razão que deixou para trás a percepção do Todo, o sentido da unidade da realidade que caracterizava os pensadores chamados pré-socráticos, os portadores do pensamento originário. Agora se introduzem os famosos dualismos: mundo-Deus, homem-natureza, razão-sensibilidade, teoria-prática. A razão criou a metafísica que na compreensão de Heidegger faz de tudo objeto e se instaura como instância de poder sobre este objeto. O ser humano deixa de se sentir parte da natureza para se confrontar com ela e submetê-la ao projeto de sua vontade.

Este paradigma ganhou sua expressão acabada mil anos depois, no século XVI, com os fundadores do paradigma moderno, Descartes, Newton, Bacon e outros. Com eles se consagrou a cosmovisão mecanicista e dualista: a natureza de um lado e o ser humano de outro de frente e encima dela como seu “mestre e dono” (Descartes) e coroa da criação em função do qual tudo existe. Elaborou-se o ideal do progresso ilimitado que supõe a dominação da natureza, no pressuposto de que esse progresso poderia caminhar infinitamente na direção do futuro. Nos últimos decênios a cobiça de acumular transformou tudo em mercadoria a ser negociada e consumida. Esquecemos que os bens e serviços da natureza são para todos e não podem ser apropriados apenas por alguns.

Depois de quatro séculos de vigência desta metafísica, quer dizer, deste modo de ser e de ver, verificamos que a natureza teve que pagar um preço alto para custear esse modelo de crescimento/desenvolvimento. Agora tocamos nos limites de suas possibilidades. A civilização técnico-científica chegou a um ponto em que ela pode por fim a si mesma, degradar profundamente a natureza, eliminar grande parte do sistema-vida e, eventualmente, erradicar a espécie humana. Seria a realização de um armagedon ecológico-social.
Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na Grécia, uma das primeiras vitimas do horror econômico, cujos banqueiros, para salvar seus ganhos, lançaram toda uma sociedade no desespero.

Chegou à Irlanda, a Portugal, à Itália, podendo-se se estender à Espanha e à França e, quiçá, a todo o sistema mundial. Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos, não tem condições de se reproduzir.

Temos que encontrar outro tipo de relação para com a natureza, outra forma de produzir e de consumir, desenvolvendo um sentido geral de interdependência face à comunidade de vida e de responsabilidade coletiva pelo nosso futuro comum. A não encetarmos essa conversão, ditaremos para nós mesmos o veredito de desaparecimento. Ou nos transformamos ou desapareceremos.

Os homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a solidariedade. Mas à condição de mudarmos de paradigma.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

FALSOS PROFETAS DO BRASIL

Incapaz de vender a alma ao diabo, a Rede Bandeirantes acaba de revender seu santo horário da noite para o pastor R.R. Soares, o líder da Igreja Internacional da Graça de Deus. O seu ‘Show da Fé’ de 20 minutos, que começava religiosamente às 21h, agora vai durar uma hora inteira, a partir das 20h30. Não se sabe ainda quanto custou esse novo e triplicado milagre, mas pelo contrato antigo o bom pastor já pagava R$ 5 milhões mensais à Band.  O vil metal falou mais alto para a TV de Johnny Saad, que anunciava a devolução do horário nobre da noite a seriados consagrados, como o 24 horas, para concorrer com as novelas da Globo e as séries do SBT, todas com melhor audiência.

A novidade escangalhou os planos do argentino Diego Guebel, que assumiu a direção artística da Band em outubro passado com a promessa de recuperar o espaço nobre e caro da noite para atrações mais mundanas do que a prosopopeia de Soares. A bíblica derrota de Guebel na Band é apenas outro indício da onda avassaladora do dinheiro que afoga a TV brasileira deste Brasil cínico que finge ser laico e imune à força econômica da religião e seus falsos profetas. Os canais de rádio e TV são concessões públicas, supostamente alheias aos credos e seitas religiosas que transformaram estúdios, igrejas, templos e estádios em púlpitos eletrônicos cada vez mais invasivos e escancarados.

Não existe ninguém no governo ou no Congresso brasileiros com coragem para frear essa flagrante ilegalidade, sancionada por verbas, dízimos, patrocínios e uma farta hipocrisia. A irrestrita capitulação aos padres e pastores que lideram milhões de fiéis (e eleitores) ficou escancarada na última eleição presidencial, em 2010, quando os dois principais candidatos com raízes na esquerda — Dilma Rousseff e José Serra — sucumbiram vergonhosamente à chantagem das correntes mais atrasadas das igrejas, frequentando missas e cultos com o gestual mal ensaiado de pios devotos que não sabiam nem metade da missa, nem qualquer salmo dos evangelhos. Encenaram um constrangedor teatro de conversão medida para não ofender o eleitor mais ortodoxo. Para não perder votos, Dilma e Serra caíram na armadilha do falso debate religioso sobre o aborto — um tema que um e outro, por mera consciência política ou formação acadêmica, sabem que nos países mais evoluídos não passa de um grave e secular problema de saúde pública.

A submissão das instâncias do Estado secular ao poder cada vez maior das igrejas pode ser medida pela intrusão cada vez mais descarada da fé nos meios eletrônicos do Brasil, que deturpam a concessão pública pelo proselitismo religioso vetado pela Constituição. A igreja católica brasileira agrupa hoje mais de 200 rádios e quase 50 emissoras de TV, contra 80 rádios e quase 280 emissoras de TV de oito braços do crescente ramo evangélico. É um domínio que se fortalece cada vez mais, embora adaptando seu perfil para fórmulas mais agressivas e despudoradas de avanço sobre o bolso das populações mais pobres, mais desesperadas, menos instruídas.


Em agosto de 2011, a Fundação Getúlio Vargas divulgou o Novo Mapa das Religiões, um denso estudo realizado pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, com base em 200 mil entrevistas formuladas pelo IBGE em 2009 a partir de sua Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). O trabalho mostrou que o Brasil deixará de ser a maior nação católica do mundo nos próximos 20 anos, mantida a queda progressiva que sofre a Igreja no país. Ela representava 83,24% da população em 1991 e caiu para 68,43% em 2009. “As mudanças que antes ocorriam em 100 anos agora acontecem em 10. Se esta perda de 1% de católicos por ano continuar, a Igreja católica terá em 20 anos menos da metade da população brasileira”, destacou o coordenador da pesquisa, Marcelo Côrtes Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV.

A economia é um forte indutor desta transformação, diz Neri. Ele lembra que as chamadas ‘décadas perdidas’ de 1980 e 1990 foram demarcadas pela queda do catolicismo em contraste com a ascensão dos grupos evangélicos, especialmente seus ramos mais belicosos e vorazes — os neopentecostais. O período de 2003 a 2009, compreendido entre duas graves crises econômicas, observa uma segunda explosão evangélica, passando de 17,9% para 20,2%. A primeira explosão, ainda maior, ocorreu nas últimas seis décadas do Século 20, quando os evangélicos aumentaram seu rebanho em sete vezes: passaram de 2,6% em 1940 para 15,4% em 2000. A FGV foi buscar no alemão Max Weber (1864-1920), o pai da moderna sociologia, o fundamento teórico que explica o avanço arrebatador dos evangélicos, a partir de sua obra mais conhecida — A ética protestante e o ‘espírito’ do capitalismo, publicada em 1904-05. Ali, Weber explica o maior desenvolvimento capitalista nos países protestantes no Século 19 e a maior proporção desses fiéis entre empresários e trabalhadores mais qualificados. “A tese de Weber era que o estilo de vida católico jogava para outra vida a conquista da felicidade. A culpa católica inibiria a acumulação de capital e a lógica da dívida de trabalho, motores fundamentais do desenvolvimento capitalista”, escreve Neri.

Weber repetia um ditado da época: “Entre bem comer ou bem dormir, há que escolher. O protestante quer comer bem, enquanto o católico quer dormir sossegado”. O pensador alemão constrói seu texto em cima de máximas do inventor e calvinista americano Benjamin Franklin (1706-1790), um dos líderes da Independência dos Estados Unidos, que dizia que “tempo é dinheiro” e “dinheiro gera mais dinheiro”. Era uma notável conversão justamente aos argumentos opostos que levaram ao grande cisma do cristianismo, no início do Século 16, quando um atrevido padre agostiniano alemão, Martinho Lutero, pregou nos portões da igreja de Wittenberg as suas 95 teses que desafiavam a autoridade do Papa e quebravam a hegemonia de Roma sobre o mundo cristão. Na época, Lutero denunciava justamente o que seria o âmago da Reforma Protestante: o desvio do caminho de fé da igreja primitiva para o atalho da corrupção, da indulgência, da simonia e da luxúria de papas e cardeais rodeados de amantes e concubinas, antecessores lascivos dos bispos e padres que comem criancinhas.


Lutero e sua radical volta às origens, estimulando o protesto aos desvios éticos de Roma e o retorno à palavra original dos evangelhos, geraram os dois termos que identificam os segmentos mais prósperos da dissidência cristã: os protestantes e os evangélicos, onde brilha sua facção mais agressiva e endinheirada — o pentecostalismo, que hoje abriga no mundo cerca de 600 milhões de seguidores, pulverizados em 11 mil seitas e subgrupos. Ali viceja sua parcela mais faustosa: a corrente neopentecostal, a que pertencem o abonado bispo R.R. Soares e seus parceiros mais ricos, os também bispos Edir Macedo, Silas Malafaia e Valdemiro Santiago, cada um chefiando sua própria seita, sempre na condição suprema de ‘apóstolos’.  Todos mostram uma devoção especial pela alma e pelo bolso de seus seguidores, a quem não se acanham de pedir contribuições financeiras a que, recatadamente, chamam de ‘oferta’.

Para não atormentar ainda mais a vida de sua aflita freguesia, os quatro chefes religiosos tratam de facilitar ao máximo as ofertas financeiras. Na tela da TV de seus animados cultos, sempre se oferece o número das contas bancárias, a bandeira dos cartões de crédito ou o telefone para informações extras que permitam a oferta, rápida e facilitada. Nenhum deles fica ruborizado pela insistência do pedido de ajuda, porque todos são pios devotos da ‘Teologia da Prosperidade’, uma doutrina pecuniária que faria o velho Lutero engolir cada uma das 95 teses que vomitou contra a cupidez da velha Roma.

A ideia nasceu, evidentemente, no coração do capitalismo, os Estados Unidos, no início do Século 20. O pai dessa fé sonante é o americano Essek William Kenyon (1867-1948), um evangelista de origem metodista nascido em Saratoga, Estado de Nova York. Descobriu o milagre do rádio e plantou ali a sua “Igreja no Ar”, a ancestral eletrônica dos R.R.Soares e Malafaias da vida. Espalhou então aos quatro ventos o lema que explica as benesses divinas da fartura: “O que eu confesso, eu possuo”.
Kenyon passou o bastão da prosperidade para um conterrâneo, Kenneth Erwin Hagin (1917-2003), um jovem texano com deficiência cardíaca, que caiu de cama quando adolescente. Garantiu ter ido e voltado ao inferno e ao céu não uma, nem duas, mas três (três!) vezes. Com este desempenho singular, até para campeões de esportes radicais, o jovem naturalmente converteu-se. Dizendo-se ungido para ser mestre e profeta, Hagin garantia ter tido oito (oito!) visões de Cristo na década de 1950, além de acumular alguns passeios extracorpóreos. Tudo isso acrescido pela divina revelação de que os verdadeiros fiéis deviam gozar de uma excelente saúde financeira e que o caminho da fortuna passava, inevitavelmente, pela prosperidade de seus profetas aqui na Terra. Foi sopa no mel, e a teologia da prosperidade conquistou corações e mentes — e bolsos.


A primeira semente deste ostensivo neopentecostalismo brotou no Brasil com a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 1977 pelo bispo Edir Macedo. Três anos depois, o pastor R.R. Soares, casado com Magdalena, irmã de Macedo, saiu do ninho da Universal para fundar sua própria igreja, a Internacional da Graça de Deus, que acaba de alugar a tela do horário nobre da Band graças ao verbo divino e a verba milionária do pastor. Uma década depois, o bispo Macedo, ainda mais próspero do que o cunhado, comprou a sua própria rede de TV, a Record, hoje a segunda maior audiência do país (4,7 pontos) no horário nobre das noites de dezembro passado, embora ainda distante da Globo (13,8).

Os televangelistas brasileiros aparentemente compõem um paraíso na terra e no ar rico em mirra, incenso e ouro, muito ouro. Há tempos, quatro grupos evangélicos rondam o empresário Sílvio Santos, que topa tudo por dinheiro, na esperança de amealhar o espaço das madrugadas do SBT por módicos R$ 20 milhões mensais. Em 2009, o próprio Edir Macedo alvejou sua maior concorrente: ofertou R$ 545 milhões para alugar o espaço das madrugadas da Rede Globo para a sua Igreja. A Globo piscou, não respondeu, e o bispo voltou à carga em agosto passado, disposto a mover céus e terras. Nada feito.
A contabilidade desses pastores, pelo jeito, oscila entre o inferno e o paraíso. O bispo que oferecia milhões para comprar um naco do maior concorrente era o mesmo dono da Igreja que fazia um descarado apelo em seu blog, em abril passado, para que os fieis juntassem alguns trocados para ajudá-lo a pagar a conta salgada de seu site. Coisa miúda, apenas R$ 107.622 mensais, que o pobre bispo diz gastar com despesas mundanas como hospedagem do servidor, salário dos funcionários, água, luz e gastos administrativos da manutenção do site. “Se o Espírito Santo lhe tocar, nos ajude a carregar essa responsabilidade”, escreveu o bispo, implorando por uma doação mínima de R$ 20.

O espírito santo, aparentemente, tocou a Rede Globo. A emissora dos Marinho odeia o bispo Macedo, mas adora os evangélicos. Na véspera do Natal de 2011, 18 de dezembro, a maior rede desta vasta nação católica rasgou o hábito e transmitiu o seu primeiro evento evangélico, gravado uma semana antes no Aterro do Flamengo, no Rio. O público presente, apenas 20 mil pessoas, foi uma heresia para as ambições bíblicas da Globo, mas a fiel audiência na telinha na tarde do domingo seguinte foi uma bênção divina.  Ao longo dos 75 minutos do programa, condensado de quase oito horas de gravação ao vivo (entre 14h e 21h30), apresentaram-se nove artistas no ‘Festival Promessas 2011′, sob o comando do astro global Serginho Groisman. Um dos mais festejados foi o cantor Regis Danese, 39 anos, que vendeu um milhão de cópias com um único disco gospel, “Compromisso”, o único a conquistar o primeiro lugar em rádios e TVs seculares do país e que lhe garantiu a indicação para o prêmio Grammy Latino em 2009.


Antes desse sucesso, Danese já era consagrado como artista do Só Pra Contrariar, um grupo de pagode que ainda ostenta o 27º lugar do ranking brasileiro, com 8 milhões de discos vendidos. Apesar disso, com problemas no casamento, converteu-se ao protestantismo no início do século. Salvou o matrimônio com Kelly, sua parceira musical, e engordou ainda mais o bolso. O álbum “Compromisso”, que conquistou o ‘Disco de Diamante’ pela venda de 500 mil cópias em apenas quatro meses de 2008, traz o seu maior sucesso, Faz um milagre em mim.  O jornalista Tom Phillips, do diário britânico The Guardian, anotou que, logo após sua triunfal apresentação no festival da Globo, Danese foi indagado na entrevista coletiva sobre os fundamentos deste milagre musical: “O senhor escutou a voz de Deus? O que ele disse?”, perguntavam-lhe. O ex-pagodeiro explicava e, embevecido, o isento repórter da revista Nova Jerusalém ressoava a cada resposta: “Amém. Louvado seja o Senhor!”

A genuflexão da Globo não representa uma súbita conversão da emissora ao credo evangélico da música: “A Globo não é um canal católico, e sim secular e republicano. Apenas documentamos um festival gospel por sua crescente importância na vida cultural do Brasil”, esquivou-se Luiz Gleizer, diretor da TV, ao jornalista britânico que ecoou o festival sob uma manchete embalada pela típica ironia inglesa: “O gospel começa a dar o tom no Brasil, a casa da bossa nova”.

Os profetas da Globo não sabem entoar um único salmo, mas como os apóstolos eletrônicos da concorrência também têm um ouvido afinado pelo doce tilintar das moedas do templo. Isso não é contado nem no confessionário, mas os querubins globais sussurram nos corredores da ‘Vênus Platinada’ que os direitos de comercialização e os espaços publicitários do festival renderam à Globo algo entre R$ 35 milhões a R$ 55 milhões, o suficiente para remir muitos pecados, dúvidas e dívidas, aqui na terra e lá no céu. O grupo é dono da gravadora Som Livre e de um catálogo religioso onde brilham ídolos como o padre católico Fábio de Melo, que já vendeu quase 2 milhões de CDs pelo selo global.

O olho cúpido e republicano da Globo está mirando um mercado de música gospel que o The Guardian estima em R$ 1,5 bilhão, um paraíso econômico onde se irmanam crentes, artistas, emissoras laicas, pastores, espertalhões, vigaristas e políticos de todas as crenças, devotos todos do santo dinheiro que cai do céu diretamente em seus bolsos. O fluminense Arolde de Oliveira, deputado federal pelo PSD — aquele diabólico partido nascido da costela do prefeito Gilberto Kassab e que garante não pertencer nem ao paraíso, nem ao inferno, nem ao purgatório —, é dono da rádio 93 FM e do Grupo MK Music, que ele jura ser o maior selo de música gospel do continente. “Mais de 60 milhões de brasileiros estão direta ou indiretamente ligados à Igreja Evangélica”, lembra o deputado Oliveira. A Globo, como se vê, tem a inspiração divina e o ouvido apurado.

O festival Promessas abriu as portas de uma terra prometida para os profetas globais. No domingo gospel, a audiência da Globo subiu aos céus, dando-lhe a indulgência de miraculosos 13 pontos no Ibope (cada ponto representa 58 mil aparelhos ligados), bem mais do que os 7 humildes pontos habituais do horário. O pastor Silas Malafaia, inimigo da Universal do bispo Macedo, aproveitou e tripudiou no seu site: “A Record não acreditou nos evangélicos, a Globo acreditou e arrebentou na audiência! Enquanto a Record fala mal dos cantores e da igreja, a Globo abre espaço para o louvor e adoração a Deus”. E arrematou com um desajeitado elogio que deve ter sobressaltado as almas globais: “Quando os que deveriam abrir as portas fecham, Deus usa os ímpios para glorificá-lo”. Iluminada pela santa promessa do Ibope, a ímpia Rede Globo prepara mais três edições do sucesso gospel para 2012 — duas versões regionais e uma nacional, evitando cuidadosamente o Rio de Janeiro, que já padece a praga de um congestionamento evangélico todo santo ano.


Valdemiro Santiago é outro desgarrado da Universal. Depois de ser considerado um virtual sucessor de Edir Macedo, brigou com ele e saiu para fundar em 1998 a sua seita, a Igreja Mundial do Poder de Deus. Começou com 16 membros e hoje o apóstolo Valdemiro chefia mais de dois mil templos, alguns na África e em Portugal, e um jornal mensal, Fé Mundial, com tiragem de 500 mil exemplares — além de um maçante trololó diário de 22 horas na Rede 21, uma subsidiária da Rede Bandeirantes, que administra as duas horas restantes.

Sua marca registrada é um chapéu de boiadeiro, o que reforça sua imagem de astro sertanejo, que costuma ganhar espaço até no Jornal Nacional, da Globo, uma devota do divisionismo que Valdemiro poderia provocar nas legiões de seu arqui-inimigo Edir Macedo. Quando enfrenta problemas de caixa, Valdemiro confia no santo gogó. Em 2010, chorou diante das câmeras de TV ao convocar 150 mil fiéis para ofertarem R$ 153, o número de peixes de um alegado milagre de Cristo. Faturou cerca de R$ 23 milhões.

Empolgado, o bispo sertanejo imaginou outra forma esperta de arrecadar dinheiro fácil, mas desta vez sem choro. Criou a campanha do “Martelinho da Justiça”, um pequeno, baratinho malho de madeira capaz de quebrar mandingas, maus-olhados e “as pedras que atravessam os seus caminhos”. A clava fajuta de Valdemiro, que despertaria a inveja do grande Thor, devia ser canonizada como a mais cara do mundo: cada oferta pelo martelinho tinha o mínimo de R$ 1 mil e Valdemiro esperava que 10 mil de seus seguidores o abençoassem com a compra do mimo, o que rechearia seu chapelão com R$ 10 milhões.

No reclame da Igreja Mundial na TV, o pastor de português trôpego, voz rouca, terno e gravata mostrava a certeza das favas divinas e muito bem calculadas: “Ainda hoje ou amanhã, na primeira hora, você vai até a agência bancária e faz esta ‘ofertinha’ de R$ 1 mil. Depois, mandaremos o martelinho pelo correio”. Para esse milagre acontecer, bastava ao crente fazer o depósito nas contas indicadas na tela e disponíveis no Banco do Brasil, Bradesco ou Caixa Econômica Federal. “De preferência no BB, como o nosso apóstolo tem nos orientado”, aconselhava o pastor, com ar compungido.

A atrevida igreja de Valdemiro já vendeu garrafinhas pet de 400 ml com ‘água ungida’, entregues por ‘ofertas’ de R$ 100, R$ 200 ou até R$ 1.000, prometendo resultados espantosos: “Uma única gota dessa água será o suficiente para mudar a história de sua vida, para lhe abençoar de uma forma poderosa”, jurava o santo homem, escoltado por outros oito pastores calados e sisudos, todos de gravata e terno escuro. Se usassem óculos pretos iria parecer uma paródia do CQC, sem a divina graça do programa humorístico da Band que sucede o show religioso do pastor R.R. Soares nas noites da segunda-feira.


O bizarro merchandising da Mundial tem produzido bons resultados, pelo menos para as finanças da igreja de Valdemiro. No primeiro dia de 2012 ele inaugurou em Guarulhos (SP) a ‘Cidade Mundial’, um megatemplo de 240 mil metros quadrados e capacidade para acolher 150 mil fiéis da Igreja Mundial do Poder de Deus — mais de duas vezes a lotação prevista do Itaquerão (68 mil lugares), o estádio que o Corinthians está construindo para a Copa do Mundo de 2014. Para erigir o templo, Valdemiro viu a igreja aumentar seus gastos mensais em R$ 30 milhões, prova de que o martelinho e a garrafinha são realmente miraculosos.

O pastor Silas Malafaia, chefe supremo da AVEC, sigla da associação que mantém a Igreja Vitória em Cristo, é a voz mais trovejante desse abusado mercado da fé ancorado nos fundamentos pétreos da Teologia da Prosperidade. Embora tenha os mesmos instrumentos de redenção econômica de Edir Macedo, Malafaia é um inimigo mortal do dono da Universal. Divergiram até na eleição presidencial de 2010: ele primeiro apoiou Marina Silva, depois fulminou sua opção pelo plebiscito no debate sobre o aborto (“cristão não tergiversa nesse tema”), e acabou fazendo campanha por Serra, adversário de Dilma, apoiada justamente pelo rival bispo Macedo. Malafaia é figura fácil no Congresso Nacional, em Brasília, onde veste a armadura de sua santa cruzada contra a proposta de lei que combate a homofobia: “O projeto [que garante a livre orientação sexual] é a primeira porta para a pedofilia”, reza, com a fúria dos justos. Numa entrevista a uma revista religiosa, crucificou como “idiotas” todos os pastores que, ao contrário dele, não apostam suas fichas, martelinhos e garrafinhas na Teologia da Prosperidade.

Ele não poupa a garganta e fala muito: quase todo santo dia, Malafaia se esparrama por cinco horas de programas variados em redes nacionais como CNT, Rede TV, Boas Novas e Bandeirantes e ocupa os sábados de emissoras regionais em outros 15 Estados. Seu programa se espalha pelos Estados Unidos e Canadá e, desde meados de 2010, Malafaia atinge 142 milhões de lares em 127 países da África, Ásia, Oriente e Médio e Europa, com o apoio da americana Inspiration Network, que faz a dublagem para o inglês.

Para tornar mais veraz sua pregação, às vezes importa dos Estados Unidos especialistas nesta riqueza material. No ano passado, junto com o pastor americano Mike Murdock, Malafaia lançou o projeto do “Clube de 1 Milhão de Almas”. Alma, sabem os televangelistas, custa caro. Ele pretendia arrebanhar um milhão de crentes para sua grei e seus programas de TV, mediante a ‘oferta’ (voluntária, claro) de R$ 1 mil — ou seja, um martelinho de madeira, pelo generoso chapéu do bispo Valdemiro. Na conta do lápis, uma bolada plena de R$ 1 bilhão, capaz de pagar mais do que cinco Mega-Senas da Virada, que bateu em R$ 177 milhões no réveillon de 2011. Os ofertantes ganhariam o livro 1001 chaves da sabedoria, do pastor Murdock, e um certificado do clube milionário, em todos os sentidos.

Para inspirar o seu rebanho, Malafaia teve a feliz ideia de colocar um contador de acessos na página da igreja para que todos acompanhassem a adesão em catadupa do milhão de almas. Algo deu errado, ou o martelinho não funcionou. Lançado em abril do ano passado, o contador da igreja Vitória em Cristo virou uma estátua de sal, como a mulher de Lot em Gênesis (19,26) e estagnou num número pífio: miseráveis 58.875 almas era a contagem de quinta-feira passada, 5 de janeiro. Um inferno de faturamento que não chegou a R$ 60 milhões, muito distante do paraíso do R$ 1 bilhão arquitetado pelo diabólico Malafaia. Faltam portanto ainda 941.125 almas para Malafaia inaugurar, sob as trombetas de Jericó, o seu clube milionário. Haja martelinho!


O bravo Malafaia não desiste facilmente. Em 2009 ele lançou a campanha de uma Bíblia por módicos R$ 900, pouco menos que um martelinho. Era a tarifa da Bíblia da Batalha Espiritual e Vitória Financeira, sacada genial de outro gênio da prosperidade, o pastor americano Morris Cerullo. Desta vez, a garrafinha deve ter funcionado, pois antes do final do ano ele viajou à Flórida, nos Estados Unidos, e lá viu se materializar, em nome da Vitória em Cristo, um jato executivo Cessna quase novo, modelo Citation Excel, pela bagatela de 12 milhões — de dólares!

Se alguém tiver alguma restrição a Bíblia, martelinho ou garrafinha, nem assim terá qualquer constrangimento para auxiliar o empreendimento celestial de Malafaia, o bom pastor dá a boa notícia de que todos podem participar de sua jornada, tornando-se seu ‘Parceiro Ministerial’, um programa de fidelidade da Igreja que arrecada fundos para manter seus programas de TV. A porta está aberta a “qualquer pessoa que receba de Deus a visão de abençoar vidas, proclamando o Evangelho por meio das mensagens do pastor Malafaia”, explica o dono do site e da igreja. Dependendo do tamanho da carteira, seu título de parceiro também cresce: o ‘Especial’ paga R$ 15 mensais, o ‘Fiel’ doa R$ 30 e o ‘Gideão’ entra na cota de sacrifício do martelinho: R$ 1 mil mensais, com direito a um exemplar por mês da revista Fiel, livros, bíblias e um cartão para 10% de descontos nos produtos da Editora Central Gospel comprados pelo telemarketing, “desde que não esteja em promoção”.

Virar parceiro do pastor é fácil, pagar é muito mais. A organização abençoada de Malafaia trabalha com o ganhoso instrumental financeiro de uma grande loja de departamentos, como convém a este éden da prosperidade.  A igreja Vitória em Cristo opera, sem preconceitos, com cartões Visa, Master, Diners, Amex ou Hipercard e tem contas abertas, sem discriminação, com o Banco do Brasil, HSBC, Bradesco ou Itaú, além de trabalhar com boletos bancários ou cheques nominais. Malafaia aceita boletos antecipados para o ano todo, mas nenhuma contribuição abaixo de R$ 15. Acima, pode.


Agora, esse mundo dourado de riquezas, promessas, ofertas, obras e fartura vai ganhar outro e inesperado púlpito: um espaço de brilho, luzes e discussões mundanas, terrenas, insinuantes, quase lascivas. Começa na terça-feira (10/1) a 12º edição do Big Brother Brasil, o reality show da Globo que arrebata o país por 12 semanas no seu jogo canalha de perfídias, traições, intrigas e sensualidade explícitas, onde garotas curvilíneas e garotos musculosos, todos transbordantes de hormônios e carentes de neurônios, desfilam suas abobrinhas em diálogos patetas e reflexões idiotas. O jornalista Eugênio Bucci, professor de Ética Jornalística da ECA-USP e da ESPM, de São Paulo, tatuou o BBB como “o mais deseducativo programa da TV brasileira, onde a fama justifica qualquer humilhação”.

Na TV, onde nada se cria e tudo se copia, a Record também tem sua versão BBB, A fazenda, com mais roupa e a mesma dose intragável de papo imbecil. A personal trainer Joana, a vencedora da versão 4 d’A fazenda, que acabou em outubro passado, arrebatou R$ 2 milhões após encontrar uma beterraba premiada, entre outros sofisticados desafios intelectuais.

Apesar dessa crônica indigência, mais de 130 mil jovens brasileiros se inscreveram para o BBB 12, ao longo de sete meses, filtrados em seletivas regionais em dez capitais. É uma febre televisiva que pode parar até a maior cidade brasileira, São Paulo, onde chega a bater em 40% do Ibope, o que significa quase dez milhões de telespectadores, metade da população da Grande SP.

A vencedora do BBB de 2011, a modelo paulista Maria Helena, 27 anos, de São Bernardo do Campo, faturou um cheque de R$ 1,5 milhão ganhando o voto por telefone de 51 milhões de pessoas. Se fosse candidata a presidente em 2010, Maria Helena, capa da edição de junho de 2011 da revista Playboy, teria derrotado José Serra por mais de sete milhões de votos e perderia para Dilma Rousseff por menos de cinco milhões.

Boninho, o diretor do BBB, apimentou a receita em 2012, para horror do pastor Malafaia, infiltrando quatro homossexuais entre os doze sarados concorrentes. “Três dos quatro gays são mulheres”, adiantou o lúbrico Boninho no seu tuíter.  Ele não disse, mas o programa de 2012 terá também a atração extra de duas evangélicas, a assistente comercial mineira Kelly, 28 anos, e a zootécnica baiana Jakeline, 22. O empresário Danilo Leal, 45 anos, pai de Jakeline, acha que a filha vai resistir bem ao paredão impiedoso do BBB, apesar de evangélica: “Ela não é recatada. Espero que Jakeline aproveite bem seus 15 minutos de fama e faça o pé de meia”, reza o empresário, dando sua sanção paternal para o que der e vier.

Não se sabe ainda o tamanho do fio-dental que as duas evangélicas vão exibir na casa mais vigiada do Brasil, nem o salmo que irão recitar debaixo do edredom, cercadas por tantas câmeras indiscretas. Não deixa de ser simbólico que, cinco séculos após ser cravado nos portões da igreja de Wittenberg, o credo rigorosamente puritano e austero fundado pelo cisma de Luterano infiltre duas crentes assanhadas e iconoclastas no cenário conspícuo do programa mais ímpio da maior rede brasileira de TV aberta. A explicação, certamente, não está nas páginas lambidas da Bíblia dos templos e igrejas desta terra supostamente laica, mas nas cédulas louvadas do dinheiro ungido pela graça divina e pela licença dos homens neste país tropical, que Jorge Ben resumiu como “abençoado por Deus e bonito por natureza”.

A louvação ecumênica ao dinheiro pintado pela hipocrisia de todos os credos esclarece, em parte, a progressiva invasão destes templos cada vez mais eletrônicos, escancarados por vendilhões cada vez mais acessíveis a espertalhões cada vez mais abusados no assalto à boa fé de sempre dos desesperados.

O velho evangelista Kenyon, profeta dessa cínica doutrina da prosperidade, poderia traduzir este Armagedom moral com o mantra invertido da religião de resultado que inventou: o que eu possuo, não confesso.

terça-feira, janeiro 10, 2012

SONHEI SER UM REI


Era uma manha fria de Janeiro do tempo atual, contudo que sei, acordo com uma impressão que algo diferente aconteceu naquela noite passada, estive sem sono pensando e enquanto adormecia já se fazia madrugada, sonhei ser um Rei de uma tribo do norte, nas regiões dos distantes onde a luz fez escuridão no outro lado do dia, isso é o que conduz o povo sofrido que herdei.

Era o terceiro mês do ano de 180, quando noticias surgida de Danúbio anunciavam a morte do Imperador Marcus Aurelius, deixando ao seu filho Lucius Aurelius Commodus como herança o reinado conquistado; Ao saber da morte de seu pai, Commodus, depois de feitos os preparativos para o funeral, fez concessões para as tribos do norte, e se apressou para voltar a Roma, a fim de desfrutar de paz, após quase duas décadas de guerra. Commodus e grande parte do exército romano por trás dele, entraram na capital em 22 de Outubro 180, em uma procissão triunfal, recebendo uma recepção de herói, mas fora da lei.

Todas as moedas emitidas em seu primeiro ano mostravam o general triunfante, um guerreiro em ação que trouxeram os despojos da vitória para os cidadãos de Roma; Havia uma grande quantidade de evidências para apoiar o fato de que Commodus foi popular entre muitas das pessoas, pelo menos para a maioria do seu reinado; Ele parece ser bastante generoso, apartir de cerca de 180 em diante, todas as moedas do império, muitas de serie contêm a lenda, Munificentia Augusta, indicando que a generosidade era de fato uma parte de seu programa imperial, moedas exibem nove ocasiões em que Commodus floresceu, foram sete anos quando ele era único imperador; e obteve alguns desses fundos de triunfo por membros aliados da classe senatorial. Esta política de generosidade certamente causou conflitos entre Commodus e o Senado; Em 191 verificou-se na Urbis Actus oficial de que os deuses tinham dado a Commodus titulo para Populus Romanus Senatusque.

Normalmente a frase Senatus Romanus populusque foi usada, enquanto o Senado odiava Commodus, o exército e as classes mais baixas o amavam. “Por causa do mau relacionamento entre o Senado e Commodus, bem como uma conspiração senatorial, Roma era praticamente governado pelos prefeitos pretorianos Perennis (182-185) e Cleander (186-9)” Lucius Aurelius Commodus começou a se vestir como o deus Hércules, vestindo peles de leão e carregando uma clave; assim, ele se apropriou de identificação dos Antoninos "tradicional, como Hércules, mas ainda mais agressiva; identificação completa Commodus com Hercules podia ser visto como uma tentativa de solidificar sua afirmação como novo fundador de Roma, que ele agora chamado de Colônia Lucia Annia Commodiana; este foi legitimado por sua ligação direta com Hércules, filho de Pai Júpiter; Ele levou o título de Hercules oficialmente algum tempo antes de meados de Setembro de 192.

Também em 190 ele renomeou todos os meses para corresponder exatamente com seus títulos, de janeiro, eles correm como se segue: Lucius, Aelius, Aurelius, Commodus, Augustus, Herculeus, Romanus, Exsuperatorius, Amazonius, Invictus, Felix, Pius. “De acordo com Dio Cassius, a mudança dos nomes dos meses como tudo, era parte de megalomania Commodus“. Commodus foi o primeiro e último da dinastia Antonine que dedicou o poder para mudar os nomes dos meses, durante o seu reinado, várias tentativas foram feitas contra a sua vida, depois de alguns esforços fracassados, uma trama orquestrada foi realizada no início de dezembro 192, aparentemente, incluindo sua amante Márcia, em 31 de Dezembro um atleta chamado Narciso estrangulou-o em sua banheira, e da memória do imperador foi amaldiçoado; Isso trouxe um fim à Dinastia Antonine, depois de treze anos do reinado de terror e vergonha, dando inicio a Dinastia dos Severos expandindo o império sem um rei.

Depois de perder muitos componentes do meu pequeno reinado para as fortes legiões romanas, tomo a decisão de partir em busca da Cidade Celestial, pois não suportei ver o povo da minha tribo sendo atacado e escravizado, quando com sorte, escapavam da morte, famílias dilaceradas em meio a violência exercida pelo poder da espada, que contra senso, para decretar a paz, devo declarar guerra como uma lamina em ordem com a lei.

Reúno alguns homens e tem inicio uma cruzada pela sobrevivência do meu povo, antigos profetas descreviam com detalhes as regiões das terras celestiais onde o império não predomina ao imposto, ao contrario existem exércitos com gladiadores que lutam pela paz, não existe vulcão ali, nem forças nucleares, por que ali não impera o poder da guerra, não há posse e tudo é natureza, os povos vivem em harmonia e confraternizam sem fronteiras com a alegria.

Após dias em marcha chegamos ao Vale dos Pântanos, cercado por abismos e florestas, grandes foram às baixas, na maioria por desistências, porque o terreno acidentado exige grande esforço físico e alto grau de resistência mental; em uma noite frente a fogueira do acampamento o conselheiro da dúvida questiona: “Como pode o senhor, possuidor de um reino onde nada falta para alimentar a fome ou para saciar a sede, sair numa cruzada rumo ao desconhecido em busca de uma lenda sobre uma Cidade Celeste, deixar a família, filhos e partir?" - O poder que meu pequeno povo me concedeu, me fez possuidor de um reino onde tudo falta para a dignidade de um pequeno individuo, não possuímos paz, somos escravizados e maltratados pelo exército romano, roubam nossa comida e estão tingindo de vermelho nossas fontes cristalinas, assaltam a liberdade e se divertem nas arenas sempre lotadas, expondo humanos aos limites das feras selvagens e famintas, para delírio da multidão; sigo em busca do meu sonho coletivo e não apenas de uma lenda, porque o conforto do quarto em meu castelo, com a presença da minha família ao redor, não me traz amparo digno que trago pelos súditos oprimidos e o incapaz; ele observou calado por um instante e pôs-se em guarda como sentinela se fazia.

Vem a noticia do guia que cruzamos as fronteiras da Região dos Perdidos, estamos em terras eminentes do perigo, depois da morte de Commodus, a violência era vista com freqüência por todas as partes de Roma, e veio um ancião que quis saber sobre nosso destino, anunciando ser senhor dos conhecimentos, e quem o possui, disse ele, é detentor de todas as coisas sobre a terra, disse que o destino que escolhemos seguir escondia os segredos da escuridão e que muitos outros se perderiam pelo caminho, falou sobre o Grego e o Romano, Zeus ou Júpiter, Pai dos deuses e dos homens, principal Deus do Olimpo, que Cronos ou Saturno o Deus do tempo, pai de Zeus, pertencia à raça dos Titãs, explicou sobre Hera ou Juno rainha dos deuses esposa de Zeus, Hefestos ou Vulcano, artista fazia os raios que Zeus lançava sobre os mortais, filho de Zeus e Hera, narrou sobre Poseidon ou Netuno, senhor dos oceanos irmão de Zeus, e contou toda a história do eterno até onde vivemos, passou por Eros o apaixonado que se tornou Cúpido, o Deus do Arco e do Amor,amante da bela Psique, a união do Amor e da Alma, filho de Venus das três Graças, Fertilidade, Encantamento e Amizade, falou com propriedade sobre Quíron, o Centauro alado, Guardião da Verdade.

Depois de tudo aconselhou que retornassemos ao ponto de origem, porque os terrenos a seguir serião infinitamente mais estranhos e sombrios dos que já percorremos até ali, que eu seria julgado não pelas vidas que eu poderia salvar, mas sim pelas que se desprenderiam pelos caminhos desse sonho, considerei por algum tempo retornar, mas me vinha a mente uma cena que projetava a viagem de volta e o sentimento da missão não cumprida, o arrependimento, fiquei acordado a noite inteira, talvez com medo da escuridão, notei que o egoísmo ameaçava escurecer o claro do meu coração, relutando para manter o equilíbrio, entro em conflito, não posso aceitar a dúvida instalada entre a fé e a razão; eu não poderia considerar que um homem possuidor do conhecimento, limite-se em crer em muitos deuses, já que a lógica da criação me dita que Deus é único e é o tudo, sem algo paralelo, logo o senhor do conhecimento mostrou-se duvidoso, não merecedor de considerações em seu parlamento, e resolvi continuar a trajetória no dia seguinte.

Passou a Terra dos Cantos Esquecidos e já se aproxima o Mundo dos Malditos, os dias passavam rapidamente e certa noite, entre rumores no silencio, ecoavam vozes dizendo, a noticia grande chegou, atrás das montanhas do sol nascente, ao longe, um clarão podia ser visto e todos encantados admiram a luz cintilante, que oferecia o céu como espetáculo em raios de tons azuis, finalmente amanha alcançaremos nosso destino tão esperado, pensava, ansioso tento dormir, mas a cabeça fervia, tinha que traçar os planos para transportar meu povo pelo longo caminho percorrido e, cansado adormeço sem perceber.

O dia amanheceu os raios do sol penetram radiantes pela fresta da janela, olho ao meu redor e vejo meu quarto, ouço o canto dos pássaros, isso me faz entender que despertava de um sonho, sem saber se encontramos de fato a Cidade Celestial, hoje à noite vou deitar mais cedo e ver se consigo sonhar o final, afinal a noite passada eu sonhei ser um Rei.