terça-feira, dezembro 06, 2011

SE AS FLORES FALASSEM

Eu hoje quero mais de mim, tenho à mão areia como o grão no deserto sem fim, sou a terra tão feia, sedenta, que pacientemente guarda a pura semente, lenta adormecida, quase esquecida no chão, não lamenta os apuros, ali espera até uma chuva cair, para só então faceira germinar enfim.

No meu caminho cultivaram  jardins sem flores, lá não existiu amores, tudo era feio, o muro era muito escuro, tudo morreu por fim, passou o luto ao meio dia, um peso certo para cair, um poço seco ruim, sem agua no fundo, sem vazão para sair, sem fluídos ou energias de coisas boas assim.

Paixões mostraram a ilusão do ser apaixonado, quis à aventura que leva ao lugar nenhum, longe do mundo, longe do meu lado, o vento vai acender o vulcão adormecido, quase esquecido no passado, vem o vazio e trás a solidão de ter sido mal amado, nesse desencontro o coração sai arrasado, como campo seco sem plantação nem capim, com flores mortas caídas em xis, outras caídas morrendo no chão.

Mistérios pensados, tomados pela glória da razão, faz chover então, o dia se fez cor no brilho do sol, o arado, o suor para plantar a raiz, faz calor quando trás o clarão do dia, depois me diz do anoitecer, meu universo encantado espero mais de ti, que do altar das levitas, uma religião do Belém do Pará da sua igreja matriz, do sul vim sentindo á pele o que viu, vento que revela o que trás o frio de lá, dúvidas insanas, fiz do medo perverso, o que é engano não quer velar, medo que vem do Paraná, quando anoitece ou é de manhã bem cedo ao norte do pais, abrem as comportas do meu sonho pagão, fantasmas medonhos que assombram o secreto do meu velho porão.

Quis ter o dom, ver brotar o que é bom dentro de mim e, lentamente, se fez sã a ferida que doeu, me fez ver o que machucou tanto, e o quanto foi em vão a minha dor, cultivando o mau e seus derivados febris, seja como for, posso criar milhões de vasos, mas vasos sem ter nenhuma flor, hoje não quero retirar nada dos seus celeiros, hoje não quero me sentar à mesa do banquete com os faceiros, hoje eu quero demonstrar a minha velha devoção.

Eu quero a paz de um Arcanjo, de um Sefardim superior, venho ouvindo suas asas zunindo por perto, por perto de mim, como o sangue quente pulsando na veia que conduz, batendo palmas pedindo biz, se faz ouvir como chuva de insetos, sereno, discreto, um espírito de luz, um anjo de juras e guardas, das palavras sagradas que sou seguidor, posso ter milhões de seguidores na internet, falando de amor ou dizendo de mim em um único clicar, mas é provável que um só deles entenda a minha palavra, a minha visão, que tenha acesso ao que eu sonho ou as flores que plantei no outro verão, as que deixei de plantar, a cor de liz do canteiro no meu jardim.

Ele, o anjo da verdade tem fome de Deus, o criador das trevas e da luz, e eu tenho de banquete a alma lavada sem vestes sem dor, sentado à mesa com um sábio senhor, pai da inspiração, na ceia que ele ofereceu, do pedaço de pão que me deu, o alimento em seu nome, que saciou a sede do silêncio, e antecedeu um momento, foi por um triz, por um instante antes da criação, todo seu complexo conhecimento, o poder, o sacrifício, a filosofia, o segredo da matemática, a resposta ao lamento, o suplicio, a ciência em anexo, a poesia, a pose do amor, o domínio do mal, a virtude do bem, no castelo que moro, o conforto que habita o eterno, o além do descaso de alguém, no reino real de um Anjo Querubim.

Que nasça enfim, um rouxinol dentro de mim. No Foop, All in.

Um comentário:

  1. "Apesar das ruínas e da morte
    onde sempre acabou cada ilusão
    a força dos meus sonhos é tão forte
    que de tudo renasce a exaltação
    e as minhas mãos nunca estão vazias."

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